Divagando.
Eu fiquei mais de 6 meses pra concertar meu skate. E eu podia com 80 centavos, descer a rua e comprar um parafuso, e então voltar a andar de skate, ter um motivo pra sair de casa sozinho.
Então, há alguns dias eu fui lá e comprei o parafuso, concertei o skate e no dia seguinte fui no ibirapuera. Eu sai de casa mesmo sem querer, por que achava que o eu-do-futuro seria grato por não ficar em casa morrendo.
O dia estava nublado, o ar estava ruim, e eu estava sozinho. Mas eu continuei. Peguei o onibus, passei a ponte, e caminhei até a marquize.
Um ollie, um varial, um flip, é, eu ainda sabia andar. E eu andei, e me bateu uma sensação ruim que eu estava andando pelos outros, não por mim. Era como se sem os outros ali, aquilo não tivesse menor graça, mesmo que só tivessem umas 8 pessoas [era dia de semana] e nenhuma estivesse olhando pra mim. Essa sensação me fez querer sentar e pensar, e foi o que eu fiz. Até, que um garotinho veio me abordar. Eu já cansei disso, esses pirralhos que andam a uns 2 meses e se sentem super malandros por morar na favela. Então eu dispensei ele, e fui andar pra outro lado da marquise, e foi quando outra vez, em outro lugar meu truk quebrou e eu tive que voltar.
Neste ultimo fim de semana do curso de artes, isso depois do incidente do ibirapuera, dois garotos vieram me assaltar. Chegaram pedindo um cigarro, conversando normal, mas era evidente que queriam me assaltar. Então veio um "passa a grana, e fica queto, finge que não ta acontecendo nada, nóis tamo armado" e um gesto mostrando uma possível arma. Eu falei "cara, vocês não vão querer mexer comigo, aqui não, eu conheço todo mundo aqui." então eles ficaram meio inseguros, eu vi que tinha dado certo e continuei "tá, fala o nome de alguém que mora por aqui, na favela que vocês conhecem" então o menos fala "Se conhece o jefferson?" e eu, com uma tranquilodade que veio de sei-lá-onde respondi "o do pantoja? [se alguém estuda e mora por aqui, quase com certeza vai estudar no pantoja, isso é obvio!...]" e ele fez que sim dai eu falei, o mais simpático e amigável "claro, eu estudo lá. [eu estudo, foi engraçado dizer aquilo mais uma vez.] Falei mano, conheço todo mundo aqui."
então ele fez como se fosse quase um amigo, a gente se comprimentou e eu fui pra casa.
Um detalhe é que se fossem me roubar além do material do curso, eu só tinha R$3,00 , mas eu fiz isso, e não sei por que.
E da primeira pra segunda vez, tem coisas muito diferentes. Na primeira, durante a conversa, eu também menti, falando que morava do lado da favela da VP e tudo o mais, mas o que me deixa estranho, é que na primeira o garoto era bem pequeno, tinha uns amigos e tudo, mas isso não vem ao caso. Na marquise, eu me senti desprotegido, me senti pequeno. E nem era um assalto da primeira vez, era só um garoto perdido, fazendo bobeira pra se sentir aquilo que acreditava ser. Mas eu fiquei inseguro.
Na segunda vez, eu agi com naturalidade, provavelmente por estar em lugares que eu conheço, eu não me senti desprotegido, não senti que eles podiam me atingir.
Mas eu não era assim, antes eu era mais seguro, não dependia de um lugar minha segurança, e não me refiro nem ao medo, medo você sempre vai sentir numa situação dessas, seu coração vai disparar, sua respiração acelerar, seu estomago gelar, mas antes, eu mesmo com esses sintomas era mais seguro. Eu tinha algo que eu acreditava valer à pena, e não dava nenhum valor pra vida ao mesmo tempo, isso me dava uma sensação de imortalidade, como se nada nunca fosse me atingir.
Eu não sou mais aquele jovem com [pseudo-]ideais que fugiu de casa pra ver a vida, eu sou só um babaca que cada vez se perde mais e mais, que cada vez vai tendo menos amigos, cada vez mais ridículo, se odiando cada vez mais e odiando tudo que toca.
PS: eu te-li e odiei esse texto. ja nem sei mais por que comecei, mesmo assim vou publicar, só pra no futuro próximo poder me sentir mais babaca ainda.
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