Só escrevendo II
Agora ele está parado em frente a prateleira de porcarias. Dessas porcarias que toda criança gosta, bolachas, salgadinhos, essas coisas que passam nas propagandas do cartoon network que fazem agente querer comer fígado acebolado com uma boa salada de espinafre.
Ele poderia seguir varias lógicas, varias linhas de raciocínio, muitas iam levar aonde ele queria. Um lugar onde o chamado "roubo" na realidade das pessoas normais vira uma coisa da rotina. E em uns 17 segundos ele chegou lá. Pegou um salgadinho e uma bolacha, sem nem ver direito qual era, e foi andando pra fora.
Naquele momento ele estava tentando pensar em outra coisa qualquer que não desse pra relacionar com a palavra furtar ou ladrão. Pensou em florestas queimando e depois em iglûs de gelo. Pensou que deveria ser bem legal construir um ilgû, e pensou que qualquer dia ele deveria tentar. Ele ja viu alguém na TV ensinando a fazer um iglû com uma pá e boa vontade, e claro, gelo, tinha o gelo. Ele ia precisar ir pra algum lugar com gelo...
Pronto, quase como um sonâmbulo ele já estava quase saindo, quando passou pela entrada, a menina que trabalhava no lacra-volumes [ela estava lá antes?] falou algo do tipo "ei, os caixas ficam ali" ou talvez "você não pode sair por aqui", mas ele não prestou atenção, só respondeu numa acão bem automática uma coisa que ele já havia pensado antes: "não, eu só estou levando pra menina ali, já volto". Depois de meio minuto a menina do lacra-volumes parou pra pensar na coerência daquilo, mas ele já estava virando a esquina, e a garota estava cansada demais pra tentar entender, tinha sido um dia terrível o dela. Mas isso não vem ao caso, o que acontece agora é uma daquelas coisas que faz agente acreditar em destino: Uma garota passa do lado de Carlos, toma o salgadinho e a bolacha da mão dele e sai correndo.
Primeiro não existe resistência da parte do Carlos, ele estava distraído procurando uma loja onde vendessem pás naquele momento do furto. Então, quando ele se deu conta do que havia acontecido resolveu seguir com o seu plano de agir como uma pessoa normal que havia comprado um salgadinho e uma bolacha, e fez o que toda pessoa normal faria depois de ser assaltado por uma garota qualquer com um livro no braço e cara de inofensiva... correu atrás.
Correr não era o forte dele, e não era mesmo. A única sorte dele era que a garota [que por algum motivo ele achou que se chamava Luisa] estava cansada, e logo caiu inconsciente, bem onde ele achou que não aguentaria mais correr.
O que aconteceu vocês podem imaginar. Aconteceu o que sempre acontece nos romances, e como isso é um romance, alguns segundos depois ela estava abrindo os olhos no apartamento de Carlos.
Vocês podem estar achando isso absurdo... ou não. Se não estiverem podem simplesmente pular este paragrafo, porque minha intenção nele será explicar o que se passou na mente de carlos nos últimos minutos antes de levar a menina pra casa. Foi algo assim: "ela desmaiou? não, deve ser um truque... hum... acho que ela desmaiou mesmo. eu devia pegar minhas coisas e deixar ela ai mesmo... as pessoas vão ver ela caída ai e vão ajuda-la. mas também... ela não fez nada demais, só roubou um ladrão [percebam que ai o plano de Carlos saiu dos trilhos, quando ele lembrou que era um ladrão] e a pobre menina deve precisar mais que eu. eu realmente devia deixar ela ai... mas... [alguns segundos depois] ela é mais pesada do que parece... que livro é esse? nunca ouvi falar... espero que ela não seja nenhuma assassina... mas também, no fim, o que eu queria com tudo isso não era um pouco de emoção e aventura? tem também o lance do [des]emprego, mas isso é só pela aventura mesmo, acho que no fim eu consegui o que eu queria... que pesada... eu devia chamar um taxi... ah, não tenho dinheiro mesmo... já ta quase chegando... nem quero pensar no esforço pra subir as escadas com esse peso sem chamar atenção... no que eu estava pensando antes de tudo isso mesmo? arranjar um emprego de instrutor de esqui ou algo do tipo acho...."
É difícil definir o que Clarice estava sentindo. Um misto de vergonha, medo, orgulho pela coragem dela, desapontamento, fome e sede, muita sede. Então, lá vinha o cara do conto de fadas com um copo de agua na mão. Os dois tinham noção de como aquela situação era absurda e constrangedora apesar de agirem como se não fosse.
-hmm... Acordou. Quer?
-Brigada.
Então houve uma pausa enquanto ela virava o copo d'agua que deu tempo para os dois pensarem no que deviam falar, e ao mesmo tempo eles falaram:
"-Qual seu nome?
-Olha desculpa por...."
Então ficaram meio embaraçados e mais uma vez começaram a falar ao mesmo tempo:
"-Clarice Reasten.
-Não se preucupa com aquilo..."
Agora ela fica muda e decide deixar ele falar primeiro. Ele pensou em fazer o mesmo, mas depois de alguns segundos começou a falar meio sem graça:
-Olha, aqui tá o que você queria, nem era meu mesmo... - apontou pro salgadinho e pra bolacha.
Ela não respondeu, talvez nem tivesse ouvido, estava olhando em volta, reconhecendo o espaço. Pra ficar mais fácil ela separou os objetos dessa forma: "Sujeira, sujeira... o que é aquilo? ah, sujeira. sofá, sujeira, cobertor, TV sujeira, mesinha, sujeira, e lixeira [a lixeira parecia a coisa menos suja no meio daquilo tudo]"
Ele estava sentado na mesa quando ela perguntou:
-Você vive aqui? - e ela logo percebeu que tinha falado isso quase como uma ofensa e se corrigiu - quer dizer... é uma casa muito bonita...
-Ah, tá tudo meio bagunçado... faz um tempo que a faxineira parou de vir.
Por que ele tinha dito aquilo ele não sabia, afinal ele nunca tivera uma faxineira, e precisaria ser muito ingênuo pra acreditar numa estória daquelas.
-Ãn... Não tá tão mal assim. Gosto do jeito como você separa as cuecas naquele canto e as meias encima daquilo -"o que era aquilo?", ela pensou.
~[três da madrugada, hora de dormir não? Vou congelar essa estória nessa cena constrangedora, mais tarde eu volto a assistir ela de onde eu parei.]
2 Comments:
ela deveria se chamar cecília.
Não sei como vou abordar o que li, achei incrível e ao mesmo tempo assustador, achava que isso não era tão simples, mas encontrei mais uma pessoa que pensa.
Se possível gostaria de conversar sobre a “Inteligência”, como li em seus textos você achou umas das formas mais legais (em minha opinião) de usar.
A propósito peguei o endereço de seu blog no Last.Fm.
Se eventualmente o que eu disse lhe despertou algo, peço que aceite meu convite.
Meu e-mail: vitor_rentes_pimentel@hotmail.com
Fica aqui meu convite.
Até.
VR
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