Tuesday, October 30, 2007

o caminho enfim à luz do dia

Eu experimentei a depressão, em muitas formas e tamanhos.
Experimentei a solidão, o desespero, a vontade de morrer, o desejo de que tudo nunca tivesse começado. Já quis o mal pra mim e me destrui de muitas formas, vivi uma tortura que parecia não ter fim, andei por becos escuros à procura de falsos sentidos.
E agora, agora eu achei o caminho de volta. Já trilhei muitos caminhos obscuros, dos quais não se costuma voltar, mas eu voltei. Agora me sinto uma pessoa normal, um individuo coletivo, alguém por quem você passa na rua todos os dias sem sequer notar.
Eu não sei, nem vou querer saber se o que eu fiz até hoje foi certo, não tenho necessidade de investigar o passado, agora eu só vivo, aproveito, sinto. Mas certas coisas deixam marcas, depois de se atirar na depressão profunda, você nunca mais é o mesmo. Todo caminho que você trilha continua em você, o caminho te molda e isso é definitivo.
Sei que o caminho que trilho agora vai sempre ser algo que não me deixará ver só o lado escuro da vida, mas o lado escuro continua em mim. As vezes num dia normal, eu sinto vontade de destruir tudo, de me matar, sim, sinto muita vontade de me matar eventualmente, mas agora eu tenho uma vida pela frente.

Wednesday, October 24, 2007

Divagando.

Eu fiquei mais de 6 meses pra concertar meu skate. E eu podia com 80 centavos, descer a rua e comprar um parafuso, e então voltar a andar de skate, ter um motivo pra sair de casa sozinho.
Então, há alguns dias eu fui lá e comprei o parafuso, concertei o skate e no dia seguinte fui no ibirapuera. Eu sai de casa mesmo sem querer, por que achava que o eu-do-futuro seria grato por não ficar em casa morrendo.
O dia estava nublado, o ar estava ruim, e eu estava sozinho. Mas eu continuei. Peguei o onibus, passei a ponte, e caminhei até a marquize.
Um ollie, um varial, um flip, é, eu ainda sabia andar. E eu andei, e me bateu uma sensação ruim que eu estava andando pelos outros, não por mim. Era como se sem os outros ali, aquilo não tivesse menor graça, mesmo que só tivessem umas 8 pessoas [era dia de semana] e nenhuma estivesse olhando pra mim. Essa sensação me fez querer sentar e pensar, e foi o que eu fiz. Até, que um garotinho veio me abordar. Eu já cansei disso, esses pirralhos que andam a uns 2 meses e se sentem super malandros por morar na favela. Então eu dispensei ele, e fui andar pra outro lado da marquise, e foi quando outra vez, em outro lugar meu truk quebrou e eu tive que voltar.

Neste ultimo fim de semana do curso de artes, isso depois do incidente do ibirapuera, dois garotos vieram me assaltar. Chegaram pedindo um cigarro, conversando normal, mas era evidente que queriam me assaltar. Então veio um "passa a grana, e fica queto, finge que não ta acontecendo nada, nóis tamo armado" e um gesto mostrando uma possível arma. Eu falei "cara, vocês não vão querer mexer comigo, aqui não, eu conheço todo mundo aqui." então eles ficaram meio inseguros, eu vi que tinha dado certo e continuei "tá, fala o nome de alguém que mora por aqui, na favela que vocês conhecem" então o menos fala "Se conhece o jefferson?" e eu, com uma tranquilodade que veio de sei-lá-onde respondi "o do pantoja? [se alguém estuda e mora por aqui, quase com certeza vai estudar no pantoja, isso é obvio!...]" e ele fez que sim dai eu falei, o mais simpático e amigável "claro, eu estudo lá. [eu estudo, foi engraçado dizer aquilo mais uma vez.] Falei mano, conheço todo mundo aqui."
então ele fez como se fosse quase um amigo, a gente se comprimentou e eu fui pra casa.
Um detalhe é que se fossem me roubar além do material do curso, eu só tinha R$3,00 , mas eu fiz isso, e não sei por que.

E da primeira pra segunda vez, tem coisas muito diferentes. Na primeira, durante a conversa, eu também menti, falando que morava do lado da favela da VP e tudo o mais, mas o que me deixa estranho, é que na primeira o garoto era bem pequeno, tinha uns amigos e tudo, mas isso não vem ao caso. Na marquise, eu me senti desprotegido, me senti pequeno. E nem era um assalto da primeira vez, era só um garoto perdido, fazendo bobeira pra se sentir aquilo que acreditava ser. Mas eu fiquei inseguro.
Na segunda vez, eu agi com naturalidade, provavelmente por estar em lugares que eu conheço, eu não me senti desprotegido, não senti que eles podiam me atingir.
Mas eu não era assim, antes eu era mais seguro, não dependia de um lugar minha segurança, e não me refiro nem ao medo, medo você sempre vai sentir numa situação dessas, seu coração vai disparar, sua respiração acelerar, seu estomago gelar, mas antes, eu mesmo com esses sintomas era mais seguro. Eu tinha algo que eu acreditava valer à pena, e não dava nenhum valor pra vida ao mesmo tempo, isso me dava uma sensação de imortalidade, como se nada nunca fosse me atingir.
Eu não sou mais aquele jovem com [pseudo-]ideais que fugiu de casa pra ver a vida, eu sou só um babaca que cada vez se perde mais e mais, que cada vez vai tendo menos amigos, cada vez mais ridículo, se odiando cada vez mais e odiando tudo que toca.

PS: eu te-li e odiei esse texto. ja nem sei mais por que comecei, mesmo assim vou publicar, só pra no futuro próximo poder me sentir mais babaca ainda.

Tuesday, October 23, 2007

Só escrevendo V [o prazer em enrolar.]

Capitulo 1
Capitulo 2
Capitulo 3
Capitulo 4


[Antes de tudo, eu queria me justificar. Por que vocês devem estar pensando: "O vitor pirou, fica escrevendo que nem um babaca e ainda acha legal, ainda continua." ou, se não estão pensando isso, deveriam. Mas a questão não é essa, quando [se] eu acabar a estória eu me justifico melhor, mas só pra re-afirmar pra mim mesmo, eu acho esse parêntesis-justificativo necessário. Só escrevendo não é uma estória que eu criei. eu só narro, nada mais, nada menos. Deixo as imagens irem passando na minha cabeça, tento deixar zonas do meu cérebro fora do meu controle trabalharem na estória. E, quando eu não estou escrevendo, eu faço o máximo de esforço possível pra não pensar na estória, quando começo a pensar, combino comigo mesmo que tudo que eu pensei não vou poder usar. Não sei se vocês entendem o que eu quero com isso... é basicamente por três coisas que eu continuo. 1. Eu preciso escrever. sou viciado nisso. e, eu achei que seria bom treinar a escrita com qualquer bobeira. 2. Eu preciso de alguma coisa pra passar o tempo. e 3. Eu queria conseguir fazer uma coisa que eu não odiasse, escrever algo que eu não tivesse vontade de apagar depois de uma semana, algo que não causasse arrependimento. e com essa historia eu posso isso, pela insignificância dela, eu só escrevo, não ligo pra ela estar ou não boa, não ligo pra erros de concordância, falta de sentido ou qualquer coisa do gênero. Sempre que eu me pego pensando em deletar essa estória, logo lembro do nome dela, (SÓ escrevendo) penso na insignificância dela, e continuo. pronto, parei de enrolar, agora vou Só escrever.]

-Sabe Carlos, eu fico pensando se algum dia, alguém ja foi tão perdida quanto eu. Queria poder viver três vezes. Na primeira fazia tudo certo, me formava, trabalhava, fazia uma familia e morria. Dai eu voltava, e vivia tudo errado, usava tudo que uma pessoa pode usar, e estragava a vida da melhor forma possivel. Então por fim eu morreria de overdose ou alguma coisa assim. E a ultima, eu com a minha experiencia viveria da melhor forma.
Ela olhou pra cima e suspirou.
-É que eu acho muito dificil uma pessoa acertar assim de primeira, ou ter que ficar sempre escolhendo entre fazer o certo, o bom ou o melhor. Isso enlouquece.
-É...
Eles passaram por um bar, umas casinhas brancas apertadas, avenidas, ruas desertas, sem falar nada. Agente nunca sabe o que quer, por causa das coisas pré-determinadas. As pessoas acham um absurdo duas pessoas andarem por uma hora sem falar nada entre si, e mesmo assim não se sentirem sozinhas. As regras dizem que o silêncio deve fazer agente se sentir sozinho, mas Carlos e Clarice estavam acima das regras e leis. Se eles passassem do seu lado, por alguns segundos você ia sentir seu corpo indo pra um outro lugar, além de tempo e espaço, uma dimensão mais simples e melhor.
Então eles sentaram num banco branco. Ele achou engraçado, que os oculos da clarice eram pretos, aqueles aros até umpouco grossos e retangulares, mas você nunca pensava "ela usa oculos." se você fechasse os olhos e tentasse formar o rosto dela na memória ia esquecer de adicionar os oculos.
A tarde estava caindo, o sol deixava a cidade laranja e ofuscava a visão. Ele protegeu os olhos do sol, e ainda sentado disse:
-O que vai ser da gente?
Ela olhou ele. Parou, pensou, mediu cada palavra:
-A gente não existe. Não dá pra existir. Você me entende, esse é só um daqueles encontros ocasionais, de duas pessoas totalmente perdidas que esbarram, conversam, ficam juntas por um dia e no outro não passam de lembranças, cada vez menos nitidas. E algum dia você vai se perguntar se aconteceu mesmo.
-...
Foi essa a resposta dele. Ele talvez tenha falado algo, se falou, nem eu, nem ele, muito menos clarice ouviu. Ele queria ficar com ela o maximo que conseguisse, nunca tivera um silêncio tão bom com outras pessoas, namoradas, amigos ou parentes. Queria devorar ela, queria ser ela do jeito mais intenso que uma pessoa pode desejar estar junto de outra.

Ele levantou, deu dois passos, e ficou de frente pra ela, lhe estendeu a mão e deu um sorriso. Ela insegura, pegou a mão dele, se levantou e então eles andaram de mãos dadas. Sem se preucupar com mãos suadas, sem se preucupar com nada. Conforme voltavam, o sol ia caindo, dando aos muros brancos pelo qual tinham passado de dia uma cara mistica, e aos poucos os postes de luz foram acentendo. O mais estranho de tudo é que eles tinham a sensação de andar atraz deles, de ver as costas e silhuestas deles juntos, como num quadro.

Tuesday, October 02, 2007

Só escrevendo IV [odeio numerais romanos.]

-Verdade... verdade... O que é verdade?
-Isso foi uma pergunta?
-Acho que sim.
Ela pegou um pouco mais de salgadinho e foi pondo na boca enquanto falava.
-Não vale, pergunta mais de gente boba. Faz uma pergunta de verdade vai.
-Tá. Então diz ai, como foi que você veio parar aqui?
-Ok, eu escolho desafio.
-Ah, isso não vale!
Ela olhou pra baixo, quieta, mastigando. O que falar?, pensou ela.
-Eu vim de...
-Te desafio à arrumar minha casa. -Era justo. Ele ajudou ela ela ajudava ele. E ninguém precisaria saber da vida de ninguém. Ele fez isso porque sabia do risco dela perguntar a mesma coisa pra ele, e uma coisa que ele odiava era falar de si mesmo. Não que tivesse um segredo, era por não gostar de abrir sua vida pra qualquer um, desde criança ele preferia guardar seus problemas pra si próprio.
Ela olhou ao redor e disse "tá" de um jeito meio aliviada.

Os dois estavam aliviados, a vassoura já estava nas mãos de Clarice e Carlos já no sofá olhava manchas escuras de umidade no teto. Quem olhasse de fora diria que eles são casados, ou moram juntos ha muito tempo. O tipo de casal que nem precisa de comunicação na hora do café da manhã, o homem estica a mão, a mulher passa a manteiga nas mãos dele, ele, depois de passar a manteiga no pão espeta a faca na manteiga, e com um olhar da mulher ele lembra como ela odeia que ele faça isso, e des-espeta a faca da manteiga.
E isso no momento era o que os dois mais odiavam.
Tem gente que consegue ficar feliz pra sempre se tiver alguma coisa realmente boa, já outras pessoas, com uma coisa desagradável ou boa ficam felizes nos primeiros 5 minutos. Depois vem o tédio.
Cinco minutos se passaram.
E eu juro pra vocês que nunca vi uma lixeira ser enchida tão rápida. Ela olhou pra ele, ainda tinha alguma bagunça à ser arrumada, mas agora já dava pra perceber que alguém morava ali.
O rosto dele. Ele tinha um segredo. Ela sabia que tinha, ele olhava pro teto, mas é como se ele visse algo mais que um teto.
Ele sentiu o olhar. Sabia que lá ao lado dele, havia uma menina, que tinha tanta vida que a vida transbordava pro ambiente que ela estava, pras pessoas ao seu redor.
-Queria voar...
Ele olhou enquanto ela continuava:
-...e queria também ter uma daquelas mutações, poderes, sei lá. Se essa vassoura levantasse vôo agora já ia me deixar feliz.
Ele continuou olhando e pensando se ela realmente estava querendo dizer alguma coisa ou se só estava quebrando o silêncio.
-Não. Sério, não sou louca nem nada, mas você já sentiu a necessidade de algo que você não entendesse? É... algo que a ciência e os documentários não explicassem, algo que em escola nem faculdade nenhuma você aprendesse.
Agora ele havia entendido. E agora era a hora dele falar alguma coisa encima daquilo, antes que a conversa morresse.
-Você já fez faculdade?
-É. Mas parei.
-Parou por que? [e sem perceber ele havia entrado na vida pessoal dela.]
-Aconteceram algumas coisas. No fim, já existem professoras de matemática demais no mundo, nem deram por minha falta. Sabia que alguns cursos chegam à mais de 50% de desistência?
E como era impressionante a capacidade daquela garota [como disse se chamava mesmo?] de mudar o assunto pro mais longe possível da vida pessoal dela.
Ele tentou falar da vida dele. Quando uma pessoa que nem o Carlos quer alguma coisa, faz o inverso do que quer, só por não saber como pedir.
-Eu estava bem no meu emprego e tudo mais. E um dia, foi uma coisa meio estranha, eu estava voltando de ônibus, um ônibus com todos os bancos ocupados. Do meu lado, o cara reclamava à cada farol vermelho que o motorista parava. E dai, lá na frente, tinha uma criança chorando. A mãe dela dava tapinhas, ficava constrangida pela filha estar chamando a atenção de todos os outros, enquanto o cara do meu lado achava a criança um motivo a mais pra se aborrecer. - Ela parecia estar realmente interessada. Pelo que ele lembrava era a primeira vez que ele conseguia contar uma história sem fazer a outra pessoa perder totalmente o interesse nas primeiras 3 palavras. - Foi então - ele fez um drama nessa parte. Estava gostando de contar historias. - que o ônibus atropelou um ciclista que passava distraído. Na hora eu ouvi um barulho tipo 'tun' lá na frente, vi todo mundo levantando de seus lugares e espiando, a porta abriu e cobrador e motorista desceram.
-Hum... e ai? que aconteceu?
-Além disso, nada.
-Ah...
-Mas!... nos 5 minutos que cobrador e motorista estavam fora do ônibus, o ônibus ainda com a chave na ignição, eu tive vontade de assumir o volante, e fugir com aquele ônibus pro mais longe que o combustível deixasse. Me imaginei fugindo da policia e usando uma moça de vestido rosa como refém. Imaginei que depois de um tempo naquilo se formariam os casais, as manchetes na tv e... e dai chegou meu ponto.
-E você queria o que com aquilo?
Ele se sentia num psicólogo.
-Eu lembro também de ter pensado que seria legal se eu batesse com o ônibus e acabasse com a vida de todo mundo lá... sabe, você já quis matar alguém como um favor pra pessoa?
-Quer sair?
-Ahn? Sair? Pra onde? Por que?
-É a melhor desculpa pra eu poder parar de arrumar sua casa.
-Hah! Tá bom! - ele ainda estava de tênis. Foi só sair.
Enquanto desciam as escadas ela perguntou:
-Mas o que isso tem a ver mesmo com o seu emprego?
-hummm... - pensou ele pela primeira vez. ou talvez já tivesse pensado aquilo, mas as palavras que sairam da sua boca pareceram genuínas. - Eu senti aquela hora que eu estava deixando de fazer tudo que eu realmente queria. Ia me tornar um cara que senta do lado das pessoas nos bancos e fica resmungando, a sensação de que eu ia ser tudo que eu não odeio, tudo que eu mais criticava, pra depois morrer atropelado por um onibus qualquer me deprimiu. -Não, espera, eu posso fazer melhor que isso, pensou - Eu queria viver. Existir nem que fosse só pra mim, nem que fosse breve, queria que uma vez na historia desse planeta alguém sentisse a vida de verdade em todas as suas formas... me senti um garoto de treze anos falando de algum plano revolucionario agora....
-Hahaha!

É... aquele sorriso. Não dava pra existir mais que aquilo.



[continua. (isso é quase uma promessa)]